26 outubro, 2006

Incoerências!

Vi, ontem à noite, o debate sobre o programa dos grandes portugueses. Ao contrário de alguns acérrimos críticos, gosto do formato, por muitos defeitos que lhe possam ser apontados.

A certa altura, surge a discussão sobre a inclusão ou não de António de Oliveira Salazar na lista de sugestões apresentadas pela RTP. Após longos minutos a recordar os horrores do Estado Novo, (não esqueçamos o passado, mas por favor(!), chega de constantes doses de xarope anti-Estado Novo e olhemos, de uma vez por todas, para o presente/futuro) surge finalmente a vez de Joana Amaral Dias formalizar a sua opnião.

"Caso Salazar vença a votação será, sem dúvida, urgente um debate na sociedade portuguesa e que se tomem medidas", foi, em traços muito gerais, a doutrina de J. Dias sobre o assunto. Então...? Que é feito da liberdade de expressão, pensamento, política? São nestes momentos que assitimos de forma clara, à mentalidade inerente em alguns membros da vida política nacional... Uma mentalidade que expressa uma ânsia constante de moldar os comportamentos, pensamentos e tudo aquilo que nos caracteriza, em nome do politicamente correcto, em nome de absolutismos morais, em nome da uniformização.

Já agora, adorava saber que medidas seriam essas...

3 Comentário(s):

Anonymous Anónimo said...

Não resisiti a comentar o teu último post, já que, como deves calcular, tenho uma perspectiva diferente da tua. Em consciência, não poderia deixar de apresentar a minha ideia, não apenas quanto ao tema propriamente dito, mas também quanto ao que foi dito sobre o tema, designadamente por Joana Amaral Dias.
Em primeiro lugar, concordo plenamente com a inclusão de António de Oliveira Salazar na lista indicativa da RTP. Tal como Joana Amaral Dias apontou (e muito bem, a meu ver), não é sustentável combater a censura censurando. Apesar do facto de a lista ser meramente indicativa, penso que p facto de Salazar ter sido excluído dela (por um tempo) constituiu uma forma implícita de censura, tendo em conta a figura que foi, já que da lista constam figuras muito menos relevantes do ponto de vista histórico.
Quanto ao facto de se "tomar medidas", penso que o que Joana Amaral Dias quis dizer, foi que se deve sondar e debater o Estado da Democracia em Portugal. Se Salazar vencer este "jogo" - que, diga-se, não teria qualquer possibilidade de ocorrer no seu período de governação - há que aferir se a razão de popularidade de Salazar constituiu um saudosismo ou até um manifesto de "regresso ao passado" por parte dos votantes. A verdade é que a geração (ou a sua maioria) que não passou pelo período de governação de Salazar tem uma noção muito distante do que foi e época de ditadura...os horrores do Estado Novo existiram e há que falar e repensar, já que, em muitos casos se atentou contra os Direitos Humanos. Calar este assunto (que é factual, não é imaginação de radicais de esquerda), isso sim, é manipular a verdade em nome de "absolutismos" ideológicos.
Joana Amaral Dias defendeu a inclusão de Oliveira Salazar na lista e que, no caso do índice de popularidade desta personagem (símbolo de um regime totalitário), há que averiguar se os portugueses estão efectivamente contentes com o regime democrático...Deixo, então, duas questões: primeira, que parte da intervenção de Joana Amaral Dias atenta contra a Liberdade de Expressão, Política ou de Pensamento (sem as quais, aliás este concurso não teria lugar)? Segunda, se o regime democrático, que tem falhas, como todos sabemos, não é bom, terá sido o Estado Novo melhor?

8:45 da tarde, outubro 27, 2006  
Blogger Rafael Fel' Fitas said...

Cara amiga Witch,
ainda bem que resolveste comentar o post, numa altura em que já nem os familiares se dignam a fazê-lo.

Respondendo as questões:
1- Ao afirmar que devem ser tomadas medidas de forma a alterar uma opinião, J. Dias tem na génese do seu pensamento uma contradição com o princípio da liberdade de expressão. Pelo menos a concepção de liberdade de expressão que conheço e defendo, de respeito pelas mais diversas opiniões, por muito que se possa discordar destas. Ao ouvir J.A. Dias, só me vem à memória a recente lei "anti-negação do genocídio arménio" que, na minha opinião, assinala um forte retrocesso nos princípios liberais desenvolvidos em França.

2- Claro que um regime democrático é preferível ao Estado Novo. Não coloco isso em causa em nenhuma parte do post. Critíco, isso sim, a constante comparação que acabaste de fazer entre estes dois regimes. Ao contrário do que muitas vezes nos querem fazer acreditar, não vivemos num verdadeiro regime democrático. E não é com constantes referências ao salazarismo, (já só servem para promover alguns interesses) que podemos melhorar.

bjs

10:27 da tarde, outubro 27, 2006  
Anonymous Anónimo said...

Amigo Rafael...

1. Não interpretei a "tomada de medidas" sugerida por Joana Amaral Dias como tendo o objectivo de mudar a opinião de seres racionais e dotados de consciência crítica. Sugeriu, sim, um debate para aferir o Estado da Democracia e sondar a concepção dos portugueses acerca deste sistema. Como disse, redito que o Estado Democrático tem falhas (e ainda bem que as tem para podermos ter blogs e conversas de café pseudo-intelectuais)...sistemas perfeitos cujas rédeas são deixadas nas mãos de homens imperfeitos, tem consequências e, honestamente, não acredito que alguma vez a humanidade chegue ao grau inteligível e perfeito das ideias que produz, de modo que me parece que jamais teremos uma verdadeira democracia.

2. Comparar regimes pode parecer estranho, mas é essa estranheza que reaviva a memória, entre o que é e o que foi...

3. Não concordo que recordar o salazarismo não nos faça andar para a frente, já que, o passado constrói o presente, e a avaliação do passado hoje permite seguir (ou não) determinados caminhos amanhã.

4. Apesar de tudo isto, continuo a gostar muito de ti ;)

10:48 da tarde, outubro 27, 2006  

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