15 outubro, 2006

Recentemente, saía no PUBLICO uma entrevista com Christopher Coker, académico da London School of Economics, na qual defendia que a Africa estava cansada das promessas altruístas, dos fundos extraviados por meia duzia de intermediários e dos doutos conselhos que a Europa, na sua pretensa superioridade moral e intelectual, dava a crer que tudo resolveriam.
A cultura é o esteio da humanidade. E a Europa crê-se o esteio das virtudes da humanidade. Talvez o seja, (e para mim certamente o será, que sou europeu) mas não é eficaz quando chega a altura de tornar exequível o que a sua sensatez doutrinária reclama. Como tal, os africanos preferem um pássaro na mão e um novo parceiro para as trocas económicas: a China. Os chineses são uns EUA com os olhos ainda mais em bico, em puro sentido literal: comodistas a pensar, pragmaticos a agir. O estatismo da política económica chinesa só serve para tornar oficial o que o liberalismo norte-americano nos sugere: o interesse económico acima do casto sentido humanista. Significa isto que a China apenas constrói estradas e escolas nos países com maiores recursos naturais. Logo, os que mais interesses suscitam. Logo, os com maior tendência para regimes ditatoriais. Como tal não lhes interessa, ao contrário dos europeus, enviar observadores para as eleições, ganhem elas o sentido de ratificação ou de legitimação do poder. Interessa-lhes jogos de soma positiva.
Não os condeno. Nem mesmo aos Africanos. China não os colonizou. E assim não são necessárias psico-terapias de realinhamento histórico. O problema está em nós perdermos oportunidades de negócio e eles, liberdade. Pois a vida africana lá permanece como a do homem medieval de Hobbes: "solitária, pobre, sórdida, brutal e curta."

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