23 novembro, 2006

Liberalismo

Há que tempos ando para escrever sobre o liberalismo e aquilo que me faz ser um seu acérrimo defensor. Pensei em colocar um artigo que achei brilhante sobre este tema. Reflecti. Cheguei à simples conclusão que, pelo menos no meu ponto de vista, estava a violar um dos princípios das ideias em que acredito.

Se o liberalismo acredita no indivíduo, na "exclusividade", na liberdade de cada ser humano, porque motivo me limitaria a copy/paste um artigo genial, quando talvez possa, eu próprio, acrescentar algo mais?

É isto mesmo que eu defendo. Defendo que neste momento 99% dos que me lêm estejam a pensar/gritar, "olha-me este estúpido", 0.5% se estejam "nas tintas para o que escrevo" e os restantes 0.5% até nem discordem totalmente do que digo. Defendo a liberdade de cada um destes indivíduos ao pensamento, sem nenhuma intromissão de qualquer entidade.

Curiosamente, quem mais contraria estes princípios são aqueles que, só aparentemente, mais entusiasticamente fazem a "defesa da liberdade". Talvez, digo eu, pela confusão que se pode gerar entre os termos 'liberdade' e 'igualdade'. Não se confunda o inconfundível. Numa sociedade livre existem desigualdades. E ainda bem que existem! As desigualdades estão estritamente ligadas à singularidade, à diversidade que cada indivíduo detém.

O mesmo se aplica em termos económicos. O mercado é o reflexo, em circuntâncias normais, dessa liberdade. É essa liberdade que deve definir as regras do jogo. Mas aceitá-la, tanto para as consequências positivas como negativas. F. Hayek oferece-nos um exemplo perfeito. Quem no livre mercado aceita os lucros que dai retira, como explicar que não actue da mesma forma quando a situação é inversa? Porquê apelar a uma "justiça social" nesta segunda situação?

Obviamente que a prossecução destes ideais não é alcançável sem que estes princípios estejam absorvidos pelo poder político. E é aí que surge o liberalismo na sua vertente política. Sempre respeitador dos princípios democráticos, guiado pela confiança no Direito, o Estado Liberal não sofre de uma obsessiva vontade de regular, vontade que agride constantemente a esfera privada e a liberdade invidual dos cidadãos.

Termino, com a triste constatação que cada vez mais se caminha no sentido contrário ao que acabei de descrever. Cada vez mais a liberdade escasseia.

5 Comentário(s):

Blogger Bernardo Rosmaninho said...

No entanto esse mesmo Estado tem de ter consciência que, quanto maior a liberdade e menor a intromissão, maiores serão os abusos, maior será o vazio entre aquilo que pessoas e empresas podem fazer (ie particulares e colectivos, dei as empresas como um exemplo).

Do ponto de vista político é impossível teres um liberalismo sem que o Estado surja como
arbitro e mediador de conflitos, e com isso, infelizmente, o Estado tende a derivar para uma situação de ditadura, ou, como sucedeu na GB e nos EUA, durante o período económico em que Sra. Tatcher e do Presidente Reagan, respectivamente, ocuparam o poder, para um aumento galopante das disparidades sociais e um descontentamento social generalizado.

Quando à liberdade no plano intelectual, quanto ao respeito pelas opiniões, nesse campo, travamos uma batalha dura que, basicamente, opõe as pessoas com princípios e educação aquelas que não as têm, fazendo estas últimas um mau uso de uma margem de livre apreciação ;) que lhes é concedida, prejudicando os outros.

(Os plágios e a difamação são bons exemplos disso mesmo)

Mas permanece a dúvida, será possível, no plano político e económico, sermos mais liberais, sem sacrificarmos as liberdades individuais e os direitos adquiridos?

9:57 da tarde, novembro 23, 2006  
Anonymous Anónimo said...

bom vou aproveitar para também comentar, tentando ser sucinto:

(posso estar enganado mas)parace-me existir aqui uma falaciosa identificação entre vectores bem diferenciados de liberdade:
liberdade de expressão, liberdade económica e liberdade no sentido da pura constatação das diferenças socio-psiquicas das pessoas e do seu direito a elas. E igualdade também não tem um único sentido e não é, de longe, impor o impossível: postergar este último sentido de liberdade fáctica que é a existência da diferença...

2:22 da manhã, novembro 25, 2006  
Blogger Rafael Fel' Fitas said...

Não querendo demovê-los do que foi dito nos comentários de cada um, creio contudo, existir alguma confusão na compreensão do que escrevi.

1) Relacionar Liberalismo com anarquia é erróneo. Só através de um poder político respeitador dos princípios democráticos é possível o desenvolvimento da liberdade individual. E como sabem, relacionar anarquia com democracia, é igualmente erróneo. De fixar igualmente que liberdade não significa irresponsabilidade. "A minha liberdade termina onde a de outrém começa".

2) Referem-me situações onde o Liberalismo seria prejudicial, aumento de "abusos", incapacidade de resolução de desigualdade por "factores como o nascimento" ou aumento do "vazio entre aquilo que pessoas e empresas podem fazer". Curiosa a forma como são descritos estes problemas. Faz-me crer que nada disto se verifica diariamente em qualquer lugar, nos quatro cantos do globo. Todavia, por incrível que pareça, essas situações são menos frequentes nos países onde se procura desenvolver uma política mais próxima do liberalismo.

3) "Falaciosa identificação entre vectores bem diferenciados de liberdade"? Liberdade há só uma. O que existe são diferentes áreas onde esta pode ser adoptada. Falacioso é defender liberdade em determinada área e no entanto, negá-la em qualquer outro campo. Liberdade, tal como o indivíduo, é una e indivisível. Como explicar então tal contradição?

4) "Mas permanece a dúvida, será possível, no plano político e económico, sermos mais liberais, sem sacrificarmos as liberdades individuais e os direitos adquiridos? " Retire-se a doutrina dos direitos adquiridos que dificilmente consegue colher aceitação na doutrina jurídica. A pergunta fica algo como "será possível, no plano político e económico, sermos liberais sem sacrificarmos as liberdades individuais?". Tendo em conta que os liberais (económico-político-morais/sociais) apelam, acima de tudo, às liberdade individuais, torna-se excusado responder a tal questão.

5:13 da manhã, novembro 25, 2006  
Anonymous Anónimo said...

bem(parecemos uns parvos,mas) mereces resposta, não obstante ser pseudo-intelectual e exaustiva:

Resposta a isto...:"Liberdade há só uma. O que existe são diferentes áreas onde esta pode ser adoptada. Falacioso é defender liberdade em determinada área e no entanto, negá-la em qualquer outro campo. Liberdade, tal como o indivíduo, é una e indivisível."...em trê pontos:

1) falácia é um erro na dedução lógica de um silogismo. Um tipo de falácia é tomar a parte pelo todo.

2) continuo convicto estar aí uma confusão no conceito liberbade, já que se o seu próprio conceito é difuso e tendencialmente subjectivo, as manifestações e alcances que de cada conceito de liberdade sejam adoptadas em diferentes aspectos, prefiguram ainda maior multiplicidade de "tipos" e intensidaces de "liberalismo". Um professor de filosofia que não eu, explicar-te-ia melhor isto.

3) eu só te dou exemplos puros, práticos e óbvios: Keynes era extremamente liberal em costumes sociais e intervencionista em política económica. O nosso Guterres socialista seria mais o contrário. Socrátes também. E quem me impede também de ser liberal, social e conservador ao mesmo tempo? Ninguém! Desde que em pontos particulares defenda um pouco mais de um, um pouco menos de outro, e um pouco tanto doutro... É uma questão de aspectos e intensidades enunciada em cima.

5:18 da tarde, novembro 25, 2006  
Blogger Rafael Fel' Fitas said...

Para sermos mais concretos, responderei da seguinte forma:

1) Antes de mais, folgo em saber que ainda manténs "frescos" os conhecimentos apreendidos na disciplina de filosofia. O meu texto refere a minha forma de interpretar o Liberalismo. Consideras que é "tomar a parte pelo todo" defendê-lo nas áreas em que o fiz. Eu não. Como referi anteriormente acredito ser incongruente defender liberdade "social" e rejeitá-la nos termos económicos. Embora não concorde, não nego que o conceito de liberdade dê azo a diferentes leituras, provavelmente por essa "subjectividade". Mas também te garanto que sob a camuflagem dessa "subjectividade", em muito se tem desvirtuado o sentido inalienável à palavra liberdade.

2) Neste ponto referes várias intensidades de "liberalismo". Acredito que seja esta a doutrina dominante. Não obstante, na minha modesta opinião não faz ser sentido ser "muito" ou "pouco" liberal. Tal como o respeito pela esfera privada não deve ser "muito" ou "pouco". Tal como o respeito pela auto-determinação não deve ser "muito" ou "pouco". Tal como o respeito pelas liberdades individuais não deve ser "muito" ou "pouco". Tal como o respeito pela liberdade de capitais não deve ser "muito" ou "pouco" e por aí em diante...

3) Os exemplos, pelo menos no caso português, estão mal escolhidos. Guterres nem de longe se revelou liberal no plano económico. Sinceramente, nem sei como o caracterizar em termos políticos. Uma espécie de incompetência misturado com aquilo a que os intelectuais denominam de "terceira via", mas no fundo, ninguém sabe muito bem o que quer isto dizer. Para Sócrates, não praticando políticas tidas como liberais consegue, ainda assim, demonstrar um maior respeito pela liberdade de mercado.

Ninguém te impede de ser liberal, social e conservador ao mesmo tempo... Deixo-te apenas este texto retirado da revista "Escola Formal":
- " O liberalismo económico suscita, pois, a hostilidade de todos esses que, incapazes de apreenderem ou ascenderem à racionalidade do real, incapazes de entenderem o que seja a razão, vão assim exercendo o instrumento das suas veleidades ao sabor dos desacordos entre a realidade do mundo e das coisas e as inclinações, interesses, frustrações e desejos da sua íntima, e necessariamente paupérrima, subjectividade."

7:54 da tarde, novembro 25, 2006  

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