28 novembro, 2006
Ideia positiva, vá se lá saber é como...
25 novembro, 2006
Política e feiras segundo Coutinho
Pelo gozo que me deu a lê-la, senti necessidade de aqui colocar a cronica de João Perreira Coutinho no Expresso de hoje. Não é genial, mas deleitável...
No fim têm o meu comentário.
Beijos roubados
Confesso: certa vez, e por motivos meramente sociológicos, fui assistir a uma campanha eleitoral. Cenário: uma feira. Actores: os feirantes. Herói (ou vilão): o político avulso. Gostei. A coisa decorre com um profissionalismo higiénico (digamos assim) que as partes cumprem com rigor académico. O político penetra no recinto. E o recinto penetra no político, sob a forma de abraços, gritos, beijos, saliva e, de vez em quando, uma língua a rabiar lá pelo meio. Nunca vi uma dentadura postiça cravada na lapela do tribuno. Mas quem sou eu? Abismado a um canto, limitava-me a contemplar tudo com uma daquelas máscaras cirúrgicas que um familiar amigo, preocupado com a minha expedição, conseguira trazer do bloco. Abençoado seja. E abençoados sejam: só numa campanha eleitoral é possível presenciar um político amassado e lambuzado pela turba gulosa, mantendo no rosto um sorriso sacrificial e penitente. E só numa campanha eleitoral a turba tem a oportunidade única de ajustar contas com o político que a visita por interesse. Talvez exista entre o povo quem beije por amor à causa. Mas a maioria beija por desprezo à causa, o que sem dúvidas contribui para um certo equilíbrio do nosso sistema democrático.
Tudo isso está em risco. Só esta semana, a estimável Federação Portuguesa das Associações de Feirantes resolveu avisar que a ingratidão dos políticos não será premiada com os carinhos costumeiros. Se os políticos não estão interessados em responder às necessidades do sector, modernizando as tendas com tecnologia e pataco, então haverá greve ao beijo e, pior, os políticos serão impedidos de entrar nas feiras em campanha eleitoral. E Fernando Assunção, presidente do organismo, acrescenta com gélida ironia: “Eles que vão fazer campanha para os hipermercados!”
Eu não sei se o país irá sobreviver a tanto: um político, abandonado e só, procurando alguém para beijar entre os iogurtes e os congelados. E os consumidores incautos, sob a luz artificial do espaço, fugindo apressadamente da boca aberta de um qualquer tarado. Evitemos este desastre. Porque, ontem, a epidemia estava nas feiras. Mas, amanhã, pode estar em qualquer lado.
Tudo isso está em risco. Só esta semana, a estimável Federação Portuguesa das Associações de Feirantes resolveu avisar que a ingratidão dos políticos não será premiada com os carinhos costumeiros. Se os políticos não estão interessados em responder às necessidades do sector, modernizando as tendas com tecnologia e pataco, então haverá greve ao beijo e, pior, os políticos serão impedidos de entrar nas feiras em campanha eleitoral. E Fernando Assunção, presidente do organismo, acrescenta com gélida ironia: “Eles que vão fazer campanha para os hipermercados!”
Eu não sei se o país irá sobreviver a tanto: um político, abandonado e só, procurando alguém para beijar entre os iogurtes e os congelados. E os consumidores incautos, sob a luz artificial do espaço, fugindo apressadamente da boca aberta de um qualquer tarado. Evitemos este desastre. Porque, ontem, a epidemia estava nas feiras. Mas, amanhã, pode estar em qualquer lado.
Nota minha: todo o populismo é hipócrita. E a hipocrisia sensacionalista é a lassidão da política. Ao "povo" importa o "contacto" com o "real". A percepção da "proximidade", subentendida em "compreensão". Os feirantes são a imagem da estulta conformação da "vida" com a demagogia. A sua reivindicação é tanto legítima quanto sensata. É dizer: não nos tomem por parvos. Tão só. Podemos pensar que a política é uma feira. Uma feira onde quem convence é quem demove as massas a lisonjear o seu produto. A arte da retórica é convencionada para a apreensão convicta do bom, do belo e do justo. Sem compartimentação dos elementos que a fundamentam. E se o homem é um animal político, os vícios da retórica são as pontes que nos incorrem na aceitação da vida. A vida, mais que um filme, é uma feira. Sem dúvida.
23 novembro, 2006
Liberalismo
Há que tempos ando para escrever sobre o liberalismo e aquilo que me faz ser um seu acérrimo defensor. Pensei em colocar um artigo que achei brilhante sobre este tema. Reflecti. Cheguei à simples conclusão que, pelo menos no meu ponto de vista, estava a violar um dos princípios das ideias em que acredito.
Se o liberalismo acredita no indivíduo, na "exclusividade", na liberdade de cada ser humano, porque motivo me limitaria a copy/paste um artigo genial, quando talvez possa, eu próprio, acrescentar algo mais?
É isto mesmo que eu defendo. Defendo que neste momento 99% dos que me lêm estejam a pensar/gritar, "olha-me este estúpido", 0.5% se estejam "nas tintas para o que escrevo" e os restantes 0.5% até nem discordem totalmente do que digo. Defendo a liberdade de cada um destes indivíduos ao pensamento, sem nenhuma intromissão de qualquer entidade.
Curiosamente, quem mais contraria estes princípios são aqueles que, só aparentemente, mais entusiasticamente fazem a "defesa da liberdade". Talvez, digo eu, pela confusão que se pode gerar entre os termos 'liberdade' e 'igualdade'. Não se confunda o inconfundível. Numa sociedade livre existem desigualdades. E ainda bem que existem! As desigualdades estão estritamente ligadas à singularidade, à diversidade que cada indivíduo detém.
O mesmo se aplica em termos económicos. O mercado é o reflexo, em circuntâncias normais, dessa liberdade. É essa liberdade que deve definir as regras do jogo. Mas aceitá-la, tanto para as consequências positivas como negativas. F. Hayek oferece-nos um exemplo perfeito. Quem no livre mercado aceita os lucros que dai retira, como explicar que não actue da mesma forma quando a situação é inversa? Porquê apelar a uma "justiça social" nesta segunda situação?
Obviamente que a prossecução destes ideais não é alcançável sem que estes princípios estejam absorvidos pelo poder político. E é aí que surge o liberalismo na sua vertente política. Sempre respeitador dos princípios democráticos, guiado pela confiança no Direito, o Estado Liberal não sofre de uma obsessiva vontade de regular, vontade que agride constantemente a esfera privada e a liberdade invidual dos cidadãos.
Termino, com a triste constatação que cada vez mais se caminha no sentido contrário ao que acabei de descrever. Cada vez mais a liberdade escasseia.
Se o liberalismo acredita no indivíduo, na "exclusividade", na liberdade de cada ser humano, porque motivo me limitaria a copy/paste um artigo genial, quando talvez possa, eu próprio, acrescentar algo mais?
É isto mesmo que eu defendo. Defendo que neste momento 99% dos que me lêm estejam a pensar/gritar, "olha-me este estúpido", 0.5% se estejam "nas tintas para o que escrevo" e os restantes 0.5% até nem discordem totalmente do que digo. Defendo a liberdade de cada um destes indivíduos ao pensamento, sem nenhuma intromissão de qualquer entidade.
Curiosamente, quem mais contraria estes princípios são aqueles que, só aparentemente, mais entusiasticamente fazem a "defesa da liberdade". Talvez, digo eu, pela confusão que se pode gerar entre os termos 'liberdade' e 'igualdade'. Não se confunda o inconfundível. Numa sociedade livre existem desigualdades. E ainda bem que existem! As desigualdades estão estritamente ligadas à singularidade, à diversidade que cada indivíduo detém.
O mesmo se aplica em termos económicos. O mercado é o reflexo, em circuntâncias normais, dessa liberdade. É essa liberdade que deve definir as regras do jogo. Mas aceitá-la, tanto para as consequências positivas como negativas. F. Hayek oferece-nos um exemplo perfeito. Quem no livre mercado aceita os lucros que dai retira, como explicar que não actue da mesma forma quando a situação é inversa? Porquê apelar a uma "justiça social" nesta segunda situação?
Obviamente que a prossecução destes ideais não é alcançável sem que estes princípios estejam absorvidos pelo poder político. E é aí que surge o liberalismo na sua vertente política. Sempre respeitador dos princípios democráticos, guiado pela confiança no Direito, o Estado Liberal não sofre de uma obsessiva vontade de regular, vontade que agride constantemente a esfera privada e a liberdade invidual dos cidadãos.
Termino, com a triste constatação que cada vez mais se caminha no sentido contrário ao que acabei de descrever. Cada vez mais a liberdade escasseia.
18 novembro, 2006
Incoerências 2
É impressão minha ou, aqueles que agora criticam Pedro Santana Lopes e o acusam de "palhaço" , devido às suas teorias conspirativas onde Sócrates e Cavaco estão envolvidos, são os mesmos que andam há meses/anos a apoiar qualquer tese que sugira a intervenção da administração norte-americana nos atentados de 11 de Setembro, por mais estúpida que seja?
09 novembro, 2006
Do Estado vê se te avias...
Segunda feira desloquei-me até à Pontinha. Objectivo: pela primeira vez, assistir a uma sessão de Prós e Contras ao vivo. Logo no tema que me é a mim, e a todos, dos mais caros: o Orçamento. Não tenho nem inteligência, nem formação para discernir fundamentos, sustentar opinião crítica, e configurar mediocres teses do ponto de vista económico-financeiro seguindo uma dialéctica analítica. Mas do que ouvi abstraí sumulas inevitáveis que em poucos pontos se podem condensar:
1) Temos um problema, não tanto de índole financeiro, mas consequente de deficiências funcionais estatais que se repercutem na eficiência da administração pública.
2) Mas do que o déficit, o valor da despesa pública constitui um largo entrave para a sustentabilidade duradoura das contas públicas.
3) O "estado do Estado social", se, iniludivelmente terá de ser repensado do ponto de vista funcional e prestacional, isso não implicará necessariamente, nem de todo nem em parte, uma distorção drástica no seu âmbito.
4) Implicará, sim, uma nova conceptualização de prioridades e maior rigor e selectividade nas prestações sociais.
5) Neste orçamento, e neste E(e)stado, a coisa, em tom apócrifo, e não decorrente de qualquer análise técnica, é mais ou menos isto: segurar os cornos do bicho para não gastar tanto dos dinheiros constantemente saquiados à classe media, por um lado; e, por outro, subsídios inúteis, benecífios fiscais duvidosos, e casos e casos de dívidas pendentes nos arquivos dos tribunais. Um país assim só propicia o "chico-espertismo" de Sampaio e o "vê se te avias" cá do burgo.
05 novembro, 2006
You'll never walk alone (11 de Março de 2004)
When you walk through a storm
Hold your head up high
And don't be afraid of the dark
At the end of the storm
Is a golden sky
And the sweet silver song of a lark
Walk on through the wind
Walk on through the rain
Tho' your dreams be tossed and blown
Walk on, walk on
With hope in your heart
And you'll never walk alone
You'll never walk alone
When you walk through a storm
Hold your head up high
And don't be afraid of the dark
At the end of the storm
Is a golden sky
And the sweet silver song of a lark
Walk on through the wind
Walk on through the rain
Tho' your dreams be tossed and blown
Walk on, walk on
With hope in your heart
And you'll never walk alone
You'll never walk alone
Saddam ou os primeiros passos da Democracia
Saddam Hussein foi condenado à morte por enforcamento. A defesta tem agora dez dias (ou terei ouvido mal e são 20?) para apresentar o recurso e trinta para apresentar as fundamentanções do mesmo. Após o término deste prazo, o Tribunal (ou o conjunto de juízes) tem um tempo indeterminado para apreciar as fundamentações apresentadas pela defesa. Quando termine a apreciação, será comunicada a sentença e o Tribunal dispõe de trinta dias para e execução da mesma.
É certo que não me cabe julgar os aspectos particulares que levaram a esta sentença, dado que desconheço o processo. Pelos vistos, o embaixador dos EUA no Iraque vê nele um grande passo para o desenvolvimento da Democracia no país. Perante afirmações como esta, o pouco controlo que tenho nas asas do pensamento e da memória revelou-se...e a memória dos motivos invocados pelo Presidente dos EUA para a intervenção militar no Iraque sibilou-me ao ouvido e incomodou-me. Os almejos do Presidente americano para instalar uma Democracia num território em que a sensibilidade democrática é inexistente ou estéril (por meios duvidosos e sem o aval das Nações Unidas) teriam eventualmente razões (económicas) mais ponderosas. Decidiu-se então partir para a mina de petróleo à procura de armas de destruição massiva (e de petróleo, mas isso ninguém vai perceber, porque nós somos bons samaritanos e estamos aqui pela democracia), erguendo o estandarte da libertação iraquiana e da luta contra o terrorismo.
Então, foi isto que o pensamento perguntou à memória quando ela lhe bateu à porta: "Será que o voluntarismo democrático dos EUA só era válido para justificar a intervenção no Iraque? Será uma pena de morte o passo ideal para desenvolver uma democracia?".
Que Saddam cometeu crimes horrendos contra os Direitos Humanos, é certo. Contudo, não podendo compensar as famílias das vítimas pelas suas perdas, será a morte de Saddam encarada com uma espécie indirecta de vindicta privada, na qual a comunidade, pela boca do juíz, expressa a sua máxima reprovação? Terá uma qualquer ordem jurídica legitimidade para reprimir a morte, matando?
Não creio que seja razoável pensar na sentença de morte nos dias que correm, havendo um Tribunal Penal Internacional apto a julgar sem recurso à pena de morte e a proteger todos os intervenientes no processo - salvo erro, já 3 advogados foram assassinados desde o início do dito.
Talvez seja mal meu, mas acredito que qualquer indivíduo tem o direito a um julgamento sem recurso à pena de morte (entendo este direito como originário) e que todos os intervenientes em qualquer processo (e mais ainda, por maioria de razão, quando se trate de um processo desta natureza) têm direito à segurança pessoal. Não é uma pena de morte que desenha o primeiro contorno de uma qualquer Democracia e se o Embaixador do EUA tem a infantilidade diplomática do "Bem feita!" (é o que se lê nas entrelinhas), aí temos o conceito de democracia dos diplomatas norte-americanos, representantes de quem se auto-proclama defendor deste regime, sintomático de desenvolvimento civilizacional que, podendo não ser o melhor em termos absolutos, parece ser o melhor possível no estado civilizacional em que nos encontramos...
É certo que não me cabe julgar os aspectos particulares que levaram a esta sentença, dado que desconheço o processo. Pelos vistos, o embaixador dos EUA no Iraque vê nele um grande passo para o desenvolvimento da Democracia no país. Perante afirmações como esta, o pouco controlo que tenho nas asas do pensamento e da memória revelou-se...e a memória dos motivos invocados pelo Presidente dos EUA para a intervenção militar no Iraque sibilou-me ao ouvido e incomodou-me. Os almejos do Presidente americano para instalar uma Democracia num território em que a sensibilidade democrática é inexistente ou estéril (por meios duvidosos e sem o aval das Nações Unidas) teriam eventualmente razões (económicas) mais ponderosas. Decidiu-se então partir para a mina de petróleo à procura de armas de destruição massiva (e de petróleo, mas isso ninguém vai perceber, porque nós somos bons samaritanos e estamos aqui pela democracia), erguendo o estandarte da libertação iraquiana e da luta contra o terrorismo.
Então, foi isto que o pensamento perguntou à memória quando ela lhe bateu à porta: "Será que o voluntarismo democrático dos EUA só era válido para justificar a intervenção no Iraque? Será uma pena de morte o passo ideal para desenvolver uma democracia?".
Que Saddam cometeu crimes horrendos contra os Direitos Humanos, é certo. Contudo, não podendo compensar as famílias das vítimas pelas suas perdas, será a morte de Saddam encarada com uma espécie indirecta de vindicta privada, na qual a comunidade, pela boca do juíz, expressa a sua máxima reprovação? Terá uma qualquer ordem jurídica legitimidade para reprimir a morte, matando?
Não creio que seja razoável pensar na sentença de morte nos dias que correm, havendo um Tribunal Penal Internacional apto a julgar sem recurso à pena de morte e a proteger todos os intervenientes no processo - salvo erro, já 3 advogados foram assassinados desde o início do dito.
Talvez seja mal meu, mas acredito que qualquer indivíduo tem o direito a um julgamento sem recurso à pena de morte (entendo este direito como originário) e que todos os intervenientes em qualquer processo (e mais ainda, por maioria de razão, quando se trate de um processo desta natureza) têm direito à segurança pessoal. Não é uma pena de morte que desenha o primeiro contorno de uma qualquer Democracia e se o Embaixador do EUA tem a infantilidade diplomática do "Bem feita!" (é o que se lê nas entrelinhas), aí temos o conceito de democracia dos diplomatas norte-americanos, representantes de quem se auto-proclama defendor deste regime, sintomático de desenvolvimento civilizacional que, podendo não ser o melhor em termos absolutos, parece ser o melhor possível no estado civilizacional em que nos encontramos...
04 novembro, 2006
01 novembro, 2006
Certeiro
Muito em poucas palavras.
De tudo o que já li por hoje, só o editorial de Martim Avilez Figueiredo aconselho.
De tudo o que já li por hoje, só o editorial de Martim Avilez Figueiredo aconselho.